Ao divulgar menos datas para a fase preliminar e não informar os critérios, CBF deixa claro que vive situação desconfortável para conciliar interesses de clubes e federações.
A CBF divulgou na quarta-feira o calendário para 2023. Como era esperado, os estaduais continuam relegados a segundo plano, com míseras 16 datas. O que já é ruim para a maioria, é ainda pior para o futebol nordestino, que terá que se dividir entre a disputa doméstica e o regional. Mais uma vez, é como encaixar um quadrado numa roda — ou seja, não vai dar certo nunca!
A Copa do Nordeste, nos moldes atuais, já exige pelo menos 10 datas — duas para a Pré-Copa e oito para a fase de grupos. Mesmo que um clube só dispute a primeira fase, ainda assim só teria mais seis datas para dedicação exclusiva para o seu estadual. Chegando às finais do Nordestão, aí a situação ficaria inconciliável.
Não à toa a CBF demorou tanto para definir o calendário para 2023. Enrolou o quanto pôde e ainda não explicou direito como será a Pré-Copa do Nordeste. Das quatro datas da edição deste ano, sobraram duas. Os 24 clubes que disputaram a fase preliminar deste ano devem cair para 16. Duas fases eliminatórias, com jogos só de ida, classificando quatro times para a fase de grupos.
O pior é que ninguém sabe ao certo quem está garantido. A princípio, 12 times já estão classificados para a fase de grupos: ABC, Atlético-BA, Bahia, Campinense, Ceará, CRB, Fluminense-PI, Fortaleza, Náutico, Sampaio Corrêa , Sergipe e Sport . Para a fase preliminar, o negócio é buscar um critério que possa contemplar, por exemplo, Santa Cruz, Vitória, CSA, América-RN, Botafogo-PB, entre outros. Isso atenderia a necessidade da Liga do Nordeste e dos patrocinadores em ter uma competição de clássicos.
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Vitória e Botafogo-PB devem estar na Pré-Copa do Nordeste, mas critérios ainda não foram definidos pela CBF — Foto: Pietro Carpi/ECV
Uma possibilidade é desprezar os critérios estaduais e partir para o ranking nacional. Assim, os tradicionais estariam contemplados por ordem de competência dos cinco últimos anos. Por outro lado, emergentes como Cordino, Retrô e Sousa, que contavam com a Copa do Nordeste em seus calendários, estariam fora.
O blog fez um levantamento considerando o ranking nacional de 2022 para “eleger” quem seriam os 16 times classificados para a Pré-Copa do Nordeste — caso a CBF adotasse esse critério:
Os 16 melhores no Ranking da CBF
Time | UF | Posição no ranking | |
1 | Ceará | CE | 13º |
2 | Vitória | BA | 25º |
3 | CSA | AL | 30º |
4 | Confiança | SE | 44º |
5 | Santa Cruz | PE | 46º |
6 | Botafogo | PB | 51º |
7 | Ferroviário | CE | 52º |
8 | Juazeirense | BA | 59º |
9 | América | RN | 61º |
10 | Jacuipense | BA | 65º |
11 | Altos | PI | 66º |
12 | Treze | PB | 67º |
13 | Imperatriz | MA | 69º |
14 | Moto Club | MA | 74º |
15 | Floresta | CE | 76º |
16 | Salgueiro | PE | 81º |
A Liga do Nordeste prefere esperar uma posição oficial e não demonstra — pelo menos oficialmente — a preferência por algum critério específico.
— A CBF ainda não divulgou a fórmula de disputa da competição, nem o número de equipes participantes. Como são duas datas, a gente tem uma ideia de como poderia ser. Mas, como é uma decisão da CBF, temos que aguardar um posicionamento oficial da diretoria de competições — disse Constantino Júnior, o Tininho, vice-presidente da Liga do Nordeste.
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Fortaleza e Sport decidiram a Copa do Nordeste neste ano. Ambos tiveram que dividir as atenções com os estaduais — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press
O negócio é que, seja qual for a solução encontrada, a CBF sairá da história chamuscada. Não vai agradar todo mundo. Talvez por isso, um influente presidente de federação ouvido pelo blog, tenha afirmado com todas as letras: “A Copa do Nordeste virou assunto proibido na CBF”.
Briga política
Nos holofotes, CBF e Liga do Nordeste mantêm a aparência da boa relação. Fora deles, a realidade é bem diferente. A Liga só conseguiu o reconhecimento da Copa do Nordeste por parte da CBF através de uma decisão judicial. Foram 10 anos obrigada a manter a competição, cuidando da parte técnica — como tabelas e regulamentos. Adivinha? Esse prazo acabou em 2022.
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Santa Cruz campeão Copa do Nordeste em 2016: clubes tradicionais têm preferido disputar o Nordestão — Foto: Marlon Costa / Agência Estado
Livre para fazer o que bem entender, a CBF protelou o quanto pôde. Até porque nunca engoliu direito o fato de a Liga do Nordeste cuidar do filé mignon, ou seja, os contratos de patrocínio e as negociações de transmissão. Trocando em miúdos: para a CBF, ela cuida da casa enquanto o outro (a Liga) aparece bem na fita para o mercado.
Some-se a isso uma relação não tão amistosa entre Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, e Alexi Portela, presidente da Liga do Nordeste. Ambos são baianos e costumavam ter posições diferentes quando o assunto era futebol. Ednaldo era o presidente da Federação Baiana de Futebol, e Alexi Portela, dirigente histórico do Vitória. Eles se reencontraram anos depois disso num outro patamar.
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Alexi Portela retornou à presidência da Liga do Nordeste em 2021 e reencontrou Ednaldo Rodrigues como presidente da CBF — Foto: Alexandre Lago/GloboEsporte.com
Pressão das federações
O último ponto conflitante na Copa do Nordeste é a pressão das federações para valorizar seus estaduais — para muitas delas, o principal filão de mercado. Há anos que os principais clubes preferem o Nordestão do que as disputas domésticas. Os estaduais viraram um desfile de times alternativos e até sub-20.
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Atlético-BA x Jacuipense final Baiano — Foto: Renan Oliveira/AGIF
Isso para não falar de outras distorções históricas. A última vez que um Ba-Vi decidiu um Campeonato Baiano foi em 2018. O Atlético de Alagoinhas é o atual bicampeão por lá — neste ano, numa decisão insólita contra a Jacuipense.
Para tentar acomodar o calendário, a Federação Cearense fez um regulamento do estadual incluindo Ceará e Fortaleza apenas a partir da segunda fase. Resultado: o Vozão disputou só duas partidas, foi eliminado, e a final acabou entre Fortaleza e Caucaia.
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Retrô na final do Pernambucano contra o Náutico: com atenções divididas, Sport e Santa Cruz ficaram pelo caminho — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press
Não é preciso dar outros exemplos para dizer que as federações não estão satisfeitas com isso. Em contato com o ge, o presidente da Federação Pernambucana, Evandro Carvalho, já havia sugerido uma revisão no calendário do primeiro semestre.
— O modelo atual que conflita com o estadual é insustentável. A Copa do Nordeste pode ser definida de qualquer forma, com jogos neste ano ou em janeiro, desde que não interfira nos estaduais.
O que já não será possível. Na Paraíba, por exemplo, a FPF já tinha planejado começar o estadual no dia 8 de janeiro. Isso sem saber ao certo quem vai jogar o Nordestão e quão longe eles chegarão.
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