O escritor Wan Lucena convida para o lançamento da sua obra de estreia – “Provai-me” – no sábado 8 de junho às 17h na Livraria Sortir na Asa Norte (CLN 403) Brasília DF. Wan Lucena é barra-cordense que reside em Portugal e veio ao Brasil especialmente para divulgar sua obra, que é uma coletânea de crônicas.
A sua excelente obra de estreia tem prefácio escrito por Rubem Milhomem, abaixo reproduzido:
” É vã a tentativa de definir o que é uma crônica. Ela pode ser cotidiano que encanta. Pode ser drama que assusta. Pode ser delicadeza que comove. Pode ser porrada que derruba. Pode ser historieta espirituosa que leva às gargalhadas. Pode ser sucessão de cenas ranzinzas que cortam o pescoço do bom humor a golpes de navalha. Pode ser muita coisa. Só não pode ser monólogo – crônica só é crônica quando dialoga com o leitor.
A gente sabe que lê uma boa crônica quando ao final do texto tem aquela mesma sensação de ter visto um bom filme, ter ouvido uma boa música, ter aplaudido um bom show ou uma boa peça de teatro. É o momento de despertar existencial que prova que a arte alimenta a alma.
A arte não tem utilidade no sentido materialista do termo. Sua importância está em nos colocar em contato com o lado transcendental, para além do campo estético. A arte não se destina a salvar o mundo – embora às vezes salve a todos nós. O dinheiro acaba, o poder passa, a arte fica.
Se a filosofia investiga a dimensão essencial e ontológica do mundo real, a arte vai em outra direção – ela é que nos resgata do excesso de realidade. A arte pode espelhar visões de mundo, mas não é tarefa dela construir conceitos para os demais ramos do conhecimento. A arte é livre para criar, manter ou superar o caos. Para seguir a religião, é preciso ter fé; para seguir a ciência, é preciso ter métodos objetivos; para seguir a arte basta ser humano.
Precisamente por isso a arte não deve temer a virtualidade da modernidade líquida. A inteligência artificial busca a perfeição e, portanto, nunca estará à altura da maravilhosa imperfeição humana. Ela jamais terá a tempestade interior dos grandes mestres. Será possível a ela mimetizar o desbunde do teatro subversivo do diretor Zé Celso Martinez Corrêa e a monstruosidade pessoal transformada em gênio criativo que marcou a pintura de Pablo Picasso, para ficar em dois exemplos. Mas criar arte única como a deles, movida por algoritmos, será impossível. A inteligência artificial mais avançada simula emoções, mas não as sente.
A obra “Provai-me” sintetiza tudo isso que estamos dizendo. Este livro é arte literária na veia. É um convite irrecusável para o banquete das delícias. E o autor Wan Lucena se expõe nu em pêlo no centro da mesa como nas bacanais da Roma Antiga ou, claro, como nos rolês palpitantes dos dias de hoje. Suas crônicas fazem o discurso necessário e cortante que testemunha o gozoso e distópico Século 21.
Em pratos diversos, Wan Lucena apresenta sua visão sensível e inquieta do mundo. Seu inconformismo com a tendência do tempo contemporâneo em regredir às trevas da Idade Média. Sua militância aguerrida contra o neofascismo, o preconceito de toda ordem, a truculência de todos os modos, a ignorância em toda medida. Suas memórias afetivas sobre o passado no interior do Nordeste e sobre o presente em Portugal.
O livro “Provai-me” é o mapa para entender o nômade que saiu do Novo Mundo (a América) e foi para o Velho Mundo (a Europa). Para constatar, dos dois lados do Oceano Atlântico, que a história deu voltas – o velho agora é o novo e o novo agora é o velho. Nada que surpreenda. Afinal, Wan Lucena alcançou a plenitude da realização pessoal na divertida contradição ambulante que marca sua trajetória. Estamos falando de alguém, por exemplo, cujo ceticismo inegociável em relação aos credos religiosos não resiste cinco minutos diante de uma bela estátua de Buda recebida de presente, que ele coloca garbosamente na decoração da sala do apartamento. Que tal?
A obra de Wan Lucena contém crônicas sisudas cheias de caneladas na mediocridade geral. Mas também contém crônicas cheias de luz, esplendor, graça, leveza e frescor. “Provai-me” é a crônica que abre o livro e é dela que se desdobram as demais. Seguem-se dezenas de crônicas ótimas, algumas ao ponto da excelência – como “Jamais por teus olhos” e “O menino que colhia flores”. Mas não só elas. As crônicas encadeadas umas após outras formam um conjunto harmônico que torna a leitura fácil e prazerosa.
Anote aí. O convite de Wan Lucena para a aventura antropofágica pós modernista da sua obra de estreia é excitante e inadiável. Aceite. Prove. Coma o autor e a obra. E depois me conte.”