Em meados de 2024 elementos fortemente armados com palavras, atitudes, emoções e sonorizações melódicas e rítmicas de alto calibre. invadiram praças, esquinas e áreas de lazer públicas de Barra do Corda -MA abalando seriamente as estruturas sociais, cognitivas e culturais. Os sujeitos históricos supracitados autodenominam-se como artistas mesopotâmicos do sertão maranhense, numa enigmática nomenclatura que articula aspectos históricos e geográficos da região, enfatizando a especificidade de seu lugar de fala.

Promovendo Arte em sentido seu mais amplo, com manifestações musicais, poéticas, visuais (desenhos e grafite), danças e artesanato, os Mesopotâmicos do Sertão Maranhense caracterizam-se como um movimento de base, constituindo, na prática, políticas públicas efetivas e eficazes, no âmbito das Artes e da Cultura, num contexto contemporâneo de escassez de eventos, fomento, apoio e desenvolvimento das demais práticas artísticas alternativas, a saber: teatro, música, artes visuais, dança. Nem da iniciativa privada e nem dos poderes públicos.
A cultura de massa tem dominado a sociedade cordina desde as últimas duas décadas, com a oferta quase que exclusiva de músicas padronizadas e impostas pelas mídias, estabelecimentos de bares, supermercados, restaurantes e secretarias de cultura. Tais músicas, de modo geral, são caracterizadas pelas tendências e modinhas do suposto sucesso atual, que, na prática tem prazo de validade minúsculos. Além disso, destacam-se nos gêneros musicais da cultura de massa (sertanejo, piseiro, arrocha, sofrência, modão, forró deturpado etc) células rítmicas e melodias simplórias, e letras de teor preconceituoso e pejorativo, que representam a mulher como mero objeto sexual; que abordam temas de incentivo ao consumo alcoólico, ostentação material, traições e paixões supérfluas entre as pessoas, dentre outras. Neste sentido, tratam-se de temas que não induzem ao pensamento crítico, socialização humana saudável, respeito e empatia entre as pessoas.
Acerca das demais linguagens artísticas é crítica a situação de praticamente total ausência de incentivo público ou privado para a formação e o desenvolvimento dos jovens e adultos para os caminhos teatrais, das artes visuais (desenhos, grafites, gravuras, charges etc), danças, além do artesanato e literatura. Ressalva-se aqui, o caso da dança, que pode ser incluída nas manifestações culturais da Punga e das Festas Juninas, eventos que constam no calendário cultural da agenda pública, contudo, acabam sendo conduzidos de maneira pontual e não estrutural.
É justamente como contraponto e contra essa cultura de massa que aliena a sociedade cordina que os Mesopotâmicos têm ocupado os logradouros públicos para fazer Arte de qualidade, com sonorização, letras e temas que provocam o público a pensar, refletir, questionar, dançar, emocionar e posicionar-se criticamente.

É importante ressaltar que a Ocupação Cultural dos espaços públicos pelos mesopotâmicos do Sertão Maranhense é, também, uma espécie de canalização de diversas ações e projetos dos supracitados artistas independentes e alternativos de Barra do Corda. Os vários ensaios abertos promovidos no Bom Lugar Tatto (acesse esta outra matéria no final deste texto), saraus promovidos em escolas e universidades, luau da Banda Nova Ordem, shows e apresentações nos estabelecimentos da cidade.

Ao todo já ocorreram quatro edições da Ocupação Cultural dos logradouros públicos, sendo três na Praça Lourival Pacheco (outrora denominada de Praça da Bandeira) e uma na Beira Rio. A primeira edição foi conduzida especialmente por Robson e Artur Pereira, numa noite de domingo que envolveu diversos músicos, artistas e literatos, como Washington e Prof. Luiz Carlos.

Nas demais edições o movimento se tornou maior e mais robusto, com a presença maior de público e a participação da maioria dos artistas independentes e alternativos de Barra do Corda, a saber: Rozim, Artus, Luciano Ricardo, Ryan, Sílvio, Jeorge dos Anjos (o Jambu), Artur Pereira, Robson, Justino, Ayo, Banda Orion, Diovanna, Brenno e o grupo De Pagode, Banda Nova Ordem, José Maria, Dean, Marley (in memorian), Dlê, Raíssa, Rômulo, Iraupuru e o grupo de Capoeira GABA, Ana Clara, Rangel, Paulo de Tasso, Kerson, dentre outros tantos. O movimento, portanto, de comunhão, sinergia, união e fraternidade pela paz, amor, emoção e cognição que o universo da Arte pode proporcionar ao ser humano.

Os efeitos dessas quatro edições foram formidáveis, inspirando diversas pessoas a escreverem e declamarem poesias naqueles momentos, a cantarem, desenharem e debaterem assuntos filosóficos. Neste sentido, as energias culturais mesopotâmicas continuaram e continuam a reverberar, mesmo a última edição tendo ocorrido no final de agosto de 2024. Evidências disso, foram o surgimento de novas bandas, como a The Mentes Astrais e Noz no Mundo, retorno do Grupo De Pagode, além do reencontro de grupos de capoeira e poetas que não param de produzir literatura de qualidade. Destarte, diversos benefícios têm sido colhidos e ainda estão por vir, pelo fato de preparar o campo cultural para que a nova geração cordina, de nossos filhos (as), apreciem e pratiquem naturalmente na cidade teatro, ópera, orquestra, literatura, artes visuais, música clássica, jazz, bossas nova, rock, e dance capoeira e punga. A mente nos possibilita sonhar, e o nosso sonho é gigantesco, audacioso e inalienável.

Nas ocupações existia também a doação e troca de livros literários usados, bem como o debate e discussões em rodas de conversa, promovendo e incentivando o hábito da leitura, da dialética. Neste ponto, também havia espaço para a divulgação dos editais de vestibulares e concursos públicos abertos, e incentivo aos estudos rotineiros, com o objetivo de fortalecer a aprovação maciça de cordinos nesses certames. Por fim, também foi promovido o espaço para a economia solidária, com destaque para as palhas italianas de Raíssa, Hambúrguer e cachorro-quente (Juan), drink’s (Xêro Drink’s), torresmo, sucos e doces.
Portanto, o movimento dos Mesopotâmicos do Sertão Maranhense transformou-se num verdadeiro organismo vivo, com polifônicos tentáculos em ação contínua, gradual e em pleno desenvolvimento. E as próximas edições prometem mais emoção, música, dança, teatro, artes visuais e pensamento crítico.
Confira mais alguns registros imagéticos simbólicos abaixo:










Consulte também esta matéria sobre o Ensaio Aberto:
https://barradocorda.com/a-arte-como-antidestino-a-4a-edicao-do-ensaio-aberto-em-barra-do-corda/
Fonte: texto de autoria dos Mesopotâmicos(as) do Sertão Maranhense.