“Pragmatismo e respeito mútuo”. É isso o que espera o assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Celso Amorim, sobre o futuro das relações entre Brasil e Estados Unidos com o retorno de Donald Trump à Casa Branca.
No entorno do presidente Lula, o precedente da relação com o presidente George W. Bush (2001-2009), do mesmo partido de Trump, durante boa parte dos dois mandatos do petista é relembrado como evidência de que o pragmatismo deve prevalecer nas relações entre Brasília e Washington.
Os EUA são o segundo maior importador de produtos brasileiros e ambas as nações mantêm um longo histórico de alianças em temas estratégicos.
A fala de Amorim está alinhada à posição do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que descarta o risco de questões ideológicas prevalecerem sobre os interesses dos dois países.
“As relações Brasil-EUA vão ser sempre ótimas, como sempre foram. São relações de Estado, o presidente Lula mesmo já teve as melhores relações possíveis com o Bush, com todos os outros. Os interesses dos Estados são sempre maiores”, declarou o chanceler à equipe da coluna.
A regulação de redes sociais e o enquadramento das big techs devem ser um dos principais pontos de atrito entre Brasília e a Casa Branca. Como publicamos no blog, o alinhamento da Meta e suas redes sociais, como Facebook e Instagram, com Trump provoca temores no Palácio do Planalto e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de retrocesso no enfrentamento da disseminação das fake news.
Além disso, mais de 30 parlamentares bolsonaristas pretendem acompanhar a posse do futuro presidente em Washington e participarão de uma série de eventos na capital.
Lula não foi convidado para a cerimônia, ao contrário de Bolsonaro. O ex-presidente, por outro lado, não ganhou aval do ministro Alexandre de Moraes para prestigiar o evento.
A participação de chefes de Estado ou de governo não é uma tradição nos EUA, mas Trump convidou outros líderes incumbentes como Javier Milei, da Argentina, e Georgia Meloni, da Itália, ambos do campo da extrema direita.
O presidente brasileiro tem feito gestos cautelosos. Um dia após as eleições nos EUA, Lula foi às redes sociais parabenizar Trump pela vitória, desejando-lhe sorte e sucesso.
“Meus parabéns ao presidente Donald Trump pela vitória eleitoral e retorno à presidência dos Estados Unidos. A democracia é a voz do povo e ela deve ser sempre respeitada. O mundo precisa de diálogo e trabalho conjunto para termos mais paz, desenvolvimento e prosperidade. Desejo sorte e sucesso ao novo governo”, afirmou.
Lula empregou um tom bem diferente daquele que usou ao declarar apoio a Kamala em entrevista ao canal francês TF1, quando afirmou que o nazismo e o fascismo estão voltando a funcionar “com outra cara”.
“Com Kamala Harris é muito mais seguro para a gente fortalecer a democracia. Nós vimos o que foi o presidente Trump (…), aquele ataque ao Capitólio. Uma coisa que era impensável acontecer nos EUA, porque se apresentavam ao mundo como modelo de democracia. E esse modelo ruiu”, disse na ocasião.
“E, como eu sou amante da democracia, acho a democracia a coisa mais sagrada que nós conseguimos construir para bem governar os nossos países, eu, obviamente, fico torcendo para a Kamala ganhar as eleições”, acrescentou Lula.
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Agora, a torcida é para o bom senso prevalecer na diplomacia.
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Por ; Rafael Moraes Moura e Johanns Eller – oglobo.globo.com – Brasília e Rio