Empresário dos pentacampeões Felipão e Rivaldo, Jorge Machado detalha as dívidas e fala sobre o processo de tentar recuperar o clube, que já foi vice-campeão brasileiro e da Libertadores
Vice-campeão Brasileiro e da Libertadores e campeão Paulista no início da década de 2000, o São Caetano voltou aos noticiários nos últimos dias. Não por conquistas – ou mesmo as recentes decepções – em campo, mas devido a uma polêmica enquete para escolher um novo escudo para o clube.
Tamanha foi a repercussão negativa que, em menos de 24 horas, a decisão foi abandonada, e a diretoria do Azulão anunciou que o brasão será mantido.
Se essa mudança não vingou, outra está destinada a acontecer: o clube vai trocar de nome. (veja com detalhes abaixo).
Mas, se por um lado o caso gerou uma enxurrada de críticas, por outro há quem prefira enxergar o copo meio cheio. É o caso do homem forte do futebol do São Caetano, o empresário Jorge Machado, que recentemente assumiu o cargo de gestor de esportes.
Famoso no meio do futebol, Machado gerenciou carreiras de sucesso como a dos pentacampeões Felipão e Rivaldo, entre outros. Ele abraçou o desafio de tentar tirar o clube do ABC Paulista de uma profunda crise e assume a responsabilidade gerada pela polêmica na troca da identidade visual. O dirigente acredita, porém, que o episódio mostrou o “potencial adormecido” do time.
– Essa foi uma situação que aconteceu, foi um erro, mas um erro que despertou um gigante, pois foi comentado no Brasil inteiro. Era um experimento que faríamos, nada definitivo. Se o torcedor não gostasse, seria revisto. Pronto, foi revisto, e a ideia foi deixada de lado – explica.
– A responsabilidade é minha, pois vai ter que ter essa mudança para um novo ciclo. Agora é passado, vamos respeitar o que a torcida definiu. Ela é o maior patrimônio do São Caetano. Não tem motivo nenhum para mudar o escudo, é um erro que foi consertado – completa.
Novo nome e novo ciclo
O São Caetano chegou ao fundo do poço em 2023. Da equipe de sucesso do início do século, restaram apenas justamente o nome e o escudo. O clube foi rebaixado pela primeira vez à Série A3 do Campeonato Paulista, além de ter passado por situações como atraso de salário de jogadores, greve e até derrota por W.O em competição nacional em temporadas anteriores.
Diante do cenário, o atual dono do São Caetano, Manoel Sabino Neto, escolheu Jorge Machado para assumir a função de “recomeçar” o clube praticamente do zero.
A gestão realizou o levantamento da dívida – hoje fixada em R$ 72 milhões – e conduz o processo de recuperação judicial. O Azulão é mais um time que caminha para se tornar uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF).
Uma coisa é certa: neste processo, embora o escudo deva ser mantido, o nome mudará. A Associação Desportiva São Caetano dará lugar ao São Caetano Futebol Clube, já que a antiga nomenclatura possui vínculo com os antigos donos que não têm mais ligação com o clube. O novo nome já é visto nos perfis oficiais do Azulão nas redes sociais, por exemplo.
Sem um conselho deliberativo, o São Caetano possui, literalmente, apenas sua sede e seus torcedores. E é a partir daí que o Azulão tentará se reerguer.
– O São Caetano tem uma cidade, o prefeito está ajudando, algumas pessoas, só que comunidade tem amor, mas não ajuda. Nós estamos tentando recuperar o clube de uma situação que se arrasta há mais de cinco anos. A situação financeira é caótica, é deplorável. É bonito, legal todo mundo ir para a rede social criticar e meter o pau por causa de uma mudança. Mas estamos aqui há quatro meses. Respeitamos sim e vamos tocar o clube – diz Jorge Machado.
A tentativa de restruturação passa por desafios que resultaram do abandono da instituição durante anos.
– É uma cidade linda, um clube que tem um passado, história, mas tem de recuperar esse passado. Recentemente houve um pedido de falência no valor de R$ 6 milhões e o credor sabia que se não fosse negociado, era falência. Acabava o clube, pois correu à revelia – revela o gestor.
Segundo Jorge Machado, há um fundo de investimento que irá injetar dinheiro no São Caetano assim que a recuperação judicial for concluída. O nome do parceiro em questão não foi revelado.
E o futebol?
Com sete rebaixamentos acumulados desde os anos áureos, o São Caetano se prepara agora para disputar a Série A3 do Campeonato Paulista. O clube jamais havia caído para este nível.
Para o Azulão, 2024 já começou e o elenco – que será comandado pelo técnico Axel – está montado. O clube, porém, mantém um certo mistério e optou por anunciar os jogadores aos poucos.
– Contratei os jogadores bem quieto, bem tranquilo. Montamos um bom time para o nível da Série A3. Monto times há mais de 30 anos, fiz isso no Mogi Mirim, Rio Branco, Caxias, Ypiranga. Sei o nível que é a Série A3, fiz minha história no interior de São Paulo antes de partir para o mundo. E agora vamos recuperar futebolisticamente o São Caetano e colocá-lo na primeira divisão. Vai andar com certeza, mas precisamos de ajuda – explica.
Para isso, no entanto, vai ser preciso fazer melhor do que na Copa Paulista: o Azulão caiu na primeira fase da competição com a pior campanha geral, conquistando apenas quatro pontos em dez jogos.
Jorge Machado admite que o desafio é grande e que até mesmo teve sua sanidade mental questionada por aceitá-lo, mas revela sua motivação.
– Todo mundo me chamou de louco, mas sou um cara em sã consciência. Sempre fui empresário de campo, descobridor de jogadores, tenho uma história e quero resgatar o futebol do São Caetano. É negócio, é business. Está aí a nova lei, queremos transformar o time em SAF, quero fazer uma história em recuperação de clubes no futebol brasileiro e deixar como um modelo disso.
Além da Série A3, o São Caetano disputará a Copa São Paulo de Futebol Júnior em 2024.
Por César Santana – ge.globo.com – São Caetano do Sul, SP